Desde então, não consigo largar o livro nas minhas horas de descanso. É uma leitura fascinante. Intrigante. Assustadora. De um lado, uma aula de política truculenta. De outro, um exemplo de resistência e coragem para enfrentar o poder de um grande coronel baiano. E no ambiente de disputa política e jogo de interesses, a publicidade não foi poupada. ACM usou seu poder para proibir que grande empresas e fornecedores do governo baiano anunciassem no jornal de maior oposição ao seu governo. Esse fato é só umas das surpresas que o livro apresenta. Leia!!!
Editora: Editorial
766 P áginas
Veja comentário do jornalista Alberto Dines sobre o livro e seus bastidores, publicado em 02 de fevereiro de 2001.
O livro Memórias das Trevas – uma devassa na vida de Antonio Carlos Magalhães, de João Carlos Teixeira Gomes, o Joca, tem 766 páginas das quais cerca de 700 tratam do senador Antonio Carlos Magalhães e do carlismo, um dos fenômenos políticos-mediáticos mais importantes do Brasil contemporâneo.
Bem escrito, primorosamente investigado e documentado – por isso fascinante – Memórias das Trevas é um facho de luz, flagrante de corpo inteiro sobre os mistérios que envolvem um político que manda e desmanda neste país há quatro décadas. Com o apoio de expressivos setores da intelectualidade dita de "esquerda".
Apesar dos evidentes méritos e da crença de que no Brasil existe liberdade de expressão, autor e sua obra estão sendo vítimas da mais esmerada Conspiração de Silêncio já articulada desde os tempos da censura.
A mídia nacional e regional (com a honrosa exceção de IstoÉ), apoiada pela máquina administrativa do Senado e o governo da Bahia, jogou-se numa operação escancarada para abafar a repercussão do livro. Na semana de lançamento saiu apenas uma única matéria reproduzindo as revelações do livro e traçando o perfil do seu autor, um dos mais importantes intelectuais da Bahia. E esta matéria saiu na IstoÉ. Uma entrevista do autor para Valor, com duração de uma hora, saiu tão escondida, mas tão escondida que pode ser considerada como caso de estudo sobre a inocente técnica de "matar" um assunto fingindo que está sendo promovido.
Nos demais veículos, o silêncio. Ou, quando não, material de descrédito sutilmente inserido como "fato jornalístico" mais relevante do que o próprio lançamento da obra: insinuações de que a editora Geração Editorial foi financiada pelos adversários de ACM, depois a barragem de releases sobre um livro impresso pela gráfica do próprio senador para desancar seu desafeto, o senador Jader Barbalho. Solertes manobras para enfiar Memórias das Trevas dentro do contexto da disputa pela presidência do Senado. Mentira: o livro está sendo escrito há alguns anos e resulta de uma luta que Joca vem travando há três décadas contra o carlismo, conforme está amplamente documentado ao longo das suas 766 páginas.
Quando Mario Sergio Conti revelou num trecho perdido de seu Notícias do Planalto que havia um pacto de sangue entre ACM e uma das iminências pardas de Veja, hoje badalado colunista de oposição, não poderia imaginar que estava desnudando e iniciando o desmonte de uma das mais comprometedoras relações entre fonte e veículo na moderna imprensa brasileira. Longe de beneficiar o leitor, ao longo de 20 anos o pacto Veja-ACM serviu para dar cobertura às andanças de ACM no período mais importante da sua incrível ascensão, dando-lhe a aura de triunfo, inexpugnabilidade e eficiência para esmagar adversários e jornalistas independentes.
Este inocente pacto de fidelidade, estendeu-se a 90% da mídia por força de dois poderosos vetores conjugados: a consolidação do Cartel Brasileiro de Mídia articulado em torno do Grupo Globo e, graças a isso, o fortalecimento do grupo que então controlava Veja, hoje incrivelmente entranhado não apenas na mídia impressa (semanal e diária) como na internet e até em fundações culturais. Temos assim a justaposição de poderosos interesses politico-empresariais do Grande Cartel com as perversidades da Pequena Máfia, diabólica engrenagem de promoção e silêncio centrada em torno da figura de ACM.
Quando Joca revela como ACM deu a NEC de mão beijada à Rede Globo e, em troca, ganhou para a sua repetidora de TV a programação da Venus Platinada (ver no índice remissivo do livro as referências à NEC e a Mário Garnero) está revelando um dos tentáculos menos conhecidos do Cartel, porém já desmascarado neste Observatório: as grandes empresas jornalísticas regionais, com um par de exceções, são aquelas associadas às repetidoras da TV-Globo, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. Isto significa que a imprensa regional – esteio de uma sociedade informada e organizada – está atrelada aos interesses globais ou de seus parceiros. E como o faturamento de uma repetidora estadual de uma das maiores redes da TV mundial é incomparavelmente maior do que o de jornais regionais, pode-se afirmar que a nossa imprensa regional funciona de facto como satélite dos interesses políticos, pessoais, empresariais e hegemônicos da Globo e seus apaniguados.
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